A Formula 1 prepara-se para um fim-de-semana no Mónaco com novos desafios, nomeadamente, a obrigatoriedade de efetuar duas paragens.
Nos últimos anos no principado, as corridas de domingo andam a ser apelidadas de aborrecidas e penso que não haja muita gente que possa discordar desta afirmação.
As opiniões relativamente a esta mudança no número de paragens obrigatórias estão divididas, com uma parte a afirmar que não trará muitas mudanças e outra que diz que isto irá apimentar as corridas.
Obviamente que vai depender de timings de possíveis safety cars ou bandeiras vermelhas mas irá certamente adicionar um nível de incerteza de que as ruas de Monte Carlo necessitam.
Max Verstappen afirma não fazer a menor ideia de como esta nova regra irá afetar a corrida: ‘Das duas uma, ou pode ser bastante simples e ser igual aos últimos anos ou pode ser uma completa loucura devido a potenciais safety cars ou simplesmente não fazer as escolhas corretas.’

‘Penso que irá certamente apimentar um pouco mais as coisas, normalmente quando só há uma paragem a única necessidade que existe é que seja boa e depois está tudo bem, conduzes até ao final, só tens de te manter focado e não bater na parede.’
‘Talvez com duas paragens algo diferente possa ser criado, equipas a apostar, adivinhar o tempo correto para parar, espero que vá mudar ligeiramente as coisas.’
O primeiro desafio apresentado às equipas é o C6, a estreia deste pneu de mistura macia ocorreu no fim-de-semana passado em Imola e não existe muita confiança relativamente ao seu custo-benefício.
Em Imola, com a sua alta degradação e curvas rápidas o C6 foi incapaz de trazer confiança aos pilotos, que preferiram utilizar os médios devido à durabilidade do composto e segurança que lhes trazia, sendo capazes de puxar mais pelo carro.
Quando questionado sobre os C6 no fim-de-semana passado, James Vowles revela que os novos pneus são bastante traiçoeiros: ‘Os tempos que realizámos ontem foram num médio, vocês viram, não conseguimos extrair uma volta deste pneu.
É bom termos esta mistura aqui porque temos de saber como retirar tempo dela antes do fim-de-semana no Mónaco mas é bastante difícil espremer todo o potencial do pneu.’
Os pilotos partilham a opinião do team principal da Williams com Esteban Ocon a revelar que o novo pneu é ainda uma incerteza: ‘não há uma garantia, houve equipas a usar os C5 (médios), alguns pilotos dizem que é melhor, outros que é pior, e outros que dizem ser igual. Só o tempo nos poderá dizer como será. Obviamente o Monaco é muito diferente de Imola, por isso vamos ver se o C6 terá mais oportunidades de ser utilizado aqui.’
Fernando Alonso, um dos pilotos que preferiu o C5 ao C6 para a qualificação em Imola revela que no Mónaco será diferente: ‘Duvido que aqui o C5 seja melhor, o C6 tem um pouco mais de tração mas em Imola, com a agressividade das curvas era muito abrasivo para o pneu mas aqui não há curvas de alta velocidade por isso penso que vou preferir o C6.’
Será necessário encontrar uma resposta coesa a esta questão porque no final do primeiro treino livre as equipas serão obrigadas a devolver alguns dos jogos de pneus à Pirelli e certamente não vão querer devolver os errados.
‘O problema é que é difícil testar estas coisas, temos de o fazer já no FP1. Não é tão claro como foi em Imola fazer esta comparação entre C5 e C6 com ambos os carros, aqui sempre que se entra em pista estamos em média a ganhar cerca de meio segundo relativamente à última volta que realizamos devido à evolução da pista por isso é difícil compreender se é o pneu que nos está a ganhar o tempo ou a evolução da pista.’ Afirmou Alonso.
Irá o pole sitter ser mais ameaçado?
Sair de pole position em Monte Carlo significa que 99% do trabalho está completo, a única coisa que possa dificultar a vitória é um erro numa paragem (Daniel Ricciardo que o diga.).
Com a mudança para duas paragens, este perigo duplicou.
Outro problema é o facto de que pilotos que se tenham qualificado mais atrás estarão dispostos a correr riscos e fazer algo extremo com a sua estratégia e isto não é uma opção que esteja disponível para os pilotos que ocupem os lugares da frente.

Fernando Alonso verbalizou este facto em entrevista: ‘Obviamente que se começarmos em pole queremos que seja uma corrida aborrecida e só com uma paragem, mas ao começar atrás as duas paragens vão oferecer a possibilidade de conseguir alguns lugares e de testar a nossa sorte com algumas das decisões. Por isso sinto que este sistema vai dar alguma esperança a muitos pilotos.’
O atual líder do campeonato do mundo de pilotos, Oscar Piastri sente que pole position continua a ser a melhor posição para começar mas reconhece que as coisas serão sem dúvida mais complicadas: ‘Continuo a acreditar que a qualificação é 90% do trabalho no Monaco mas acho que fica mais complicado agora com duas paragens (…) mas como já disse, qualificar em primeiro e a não ser que algo corra imensamente mal vai ser difícil perder a corrida.’
‘Penso que será possível arriscar mais mas continua a haver muitos elementos estratégicos envolvidos. Se vai aumentar o número de ultrapassagens? Não, mas vai sem dúvida dificultar a corrida.’
Paragens precoces?
O asfalto de Monte Carlo é incrivelmente brando com os pneus, isto quer dizer que os pilotos conseguem completar a totalidade das corridas apenas com um jogo de pneus, desde que o seu ritmo seja gerido.
E isto abre um cenário em que os backmarkers possam realizar as suas duas paragens numa fase inicial da corrida.
Ollie Bearman já andou a pensar sobre estratégias ‘fora da caixa’: ‘Claro que tenho andado a pensar em estratégias mais ambiciosas, mas penso que será para isso que a noite de sábado servirá, quando soubermos de onde vamos arrancar vamos perceber o apetite que teremos para uma jogada mais arriscada.’
Alexander Albon foi também questionado e revela preocupações relativamente a como serão efetuadas as paragens: ‘penso que o maior motivo para estarmos a fazer isto é para mudar um pouco as coisas mas a minha preocupação é que não mude de todo, e que se crie uma situação em que toda a gente vá às pits nas voltas iniciais e que se siga a maior parte da corrida sem qualquer tipo de paragem.’
O perigo deste tipo de estratégia é claro, os pneus não aguentarem toda a corrida depois das paragens. A Pirelli escolheu tornar os pneus de 2025 mais macios que os de 2024, não havendo certezas que o C4, mais dura das misturas a usar durante o fim-de-semana, dure as mais de 70 voltas que terá de realizar na eventualidade de duas paragens prematuras.

Existe cepticismo relativamente a esta estratégia por parte da Sauber, Beat Zehnder engenheiro da construtora Helvética diz que muito dificilmente haverá um vencedor que siga esta estratégia: ‘Não penso que funcione dessa maneira. Se o safety car estiver em pista sim, mas não penso que vá funcionar. No ano passado só funcionou porque os tempos que estavam a ser feitos pelos pilotos eram em média 5 segundos mais lentos que o previsto. Fazer duas paragens seguidas sem safety car não vai funcionar porque os pneus se vão desgastar bastante.’
O risco de carros tampão.
Alexander Albon e Carlos Sainz ambos verbalizaram a preocupação relativamente a um cenário em que haja pilotos a atrasar propositadamente os carros atrás de modo a facilitar a paragem do seu colega.
‘Há um elemento de lotaria no Monaco e este ano esse elemento será ainda maior. Penso que todos os que comecem fora de pole estão gratos pelas duas paragens obrigatórias. (…) há muitas coisas que podem acontecer, as equipas vão arranjar soluções, os pilotos vão puxar um pouco mais. Só estou preocupado com as equipas a tentar moldar o ritmo para ajudar um dos seus pilotos, espero que não haja muitos truques destes mas é a F1 por isso nunca se sabe.’ Afirmou Sainz.

Albon concordou com o seu colega:’ o mais importante para nós, especialmente no midfield, é colegas de equipa e como se ajudam entre eles. Um bom exemplo disto é a corrida em Jeddah no ano passado em que o Magnussen basicamente estacionou um autocarro e permitiu que o Hulkenberg tivesse uma paragem grátis.’
‘Numa pista assim, com duas paragens isto é perfeitamente possível e não se quer correr assim. Isto não serve para dizer que não acho que duas paragens sejam uma boa ideia, precisamos de tentar algo de diferente para trazer emoção mas pode ser que isto não mude de todo o estilo da corrida.’