McLaren

Terá a Harmonia na McLaren sido destruída?

O que se passou na volta inaugural em Marina Bay foi um real teste a um dos mandamentos da equipa de Woking. A igualdade entre ambos os pilotos, sendo irrelevante a posição que ocupam no campeonato, algo que pode já ter custado um título a Lando Norris no ano passado. 

Penso que a agressividade compensou.

No arranque do Grande Prémio de Singapura, Lando Norris protagonizou uma tremenda largada que o permitiu encontrar o interior da curva 3 e ultrapassar o seu colega, o problema? O piloto britânico foi obrigado a embater no carro de Oscar Piastri de modo a limitar o contacto com Max Verstappen que seguia à frente de ambos os McLaren. 

Oscar Piastri abriu imediatamente o rádio no seguimento do sucedido de modo a pedir justificações e foi recebido com uma mensagem bastante clara: Não seria efetuada uma troca de posições porque a situação foi vista pelos stewards como um incidente de corrida. 

Tom Stallard, engenheiro de Piastri, informou o australiano da decisão da pit wall da McLaren: 

‘O incidente na curva 3, os stewards não vão tomar nenhuma ação. Como equipa achamos que o Lando tinha de evitar o contacto com o Verstappen por isso não vamos fazer nada durante a corrida. Vamos avaliar a situação depois.’ 

Obviamente esta não era a resposta que Oscar queria ouvir, e o atual líder do campeonato demonstrou-se claramente frustrado: 

‘Não é justo, desculpem mas não é justo. Se para evitar bater noutro carro tem de bater no carro do colega, é uma péssima maneira de evitar.’ 

Depois da corrida e das celebrações da McLaren, Lando Norris foi questionado sobre o acontecimento e a visão do britânico sobre o acontecimento não poderia ser mais diferente da do seu colega: 

‘o arranque foi bom, o lado direito da grelha estava bom acho que consegui sair bem e meter-me numa boa posição de modo a não ficar para trás nas duas curvas iniciais.’ 

‘E pronto, o Oscar deixou um espaço no interior da curva que acabou por ser curto, devido ao quão húmida estava a pista. Penso que foi por causa disso que acabei por tocar no Max, o que me obrigou a fazer uma ligeira correção. Foi isso.’ 

‘Penso que foi bom, consegui a posição e sinceramente se não tivesse sido assim provavelmente não iria conseguir porque é muito difícil ultrapassar aqui.’ 

‘Penso que a agressividade compensou.’

Quando questionado sobre se a agressividade que mencionou era direcionada ao seu colega, Norris afirmou: ‘bem, bati no Max por isso não foi agressivo com o meu colega.’ 

Andrea Stella, o team principal da McLaren foi também questionado sobre o sucedido e pareceu concordar com o ponto de vista de Lando: 

‘Obviamente o Oscar fez algumas afirmações dentro do carro mas esse é o tipo de caráter que queremos nos nossos pilotos. Têm de de nos dar a sua opinião de maneira clara, nós pedimos isso aos pilotos.’ 

‘Mas ao mesmo tempo temos de colocar as coisas na perspetiva correta, a perspetiva de um piloto num carro de Formula 1 na intensidade da primeira volta. É óbvio que na perspetiva do Oscar, o Lando foi contra ele mas na realidade o Lando teve contacto com o Verstappen e acabou por tocar no Oscar.’ 

‘Somos bons a rever as situações, temos boas conversas e vamos fazer exatamente o que fizemos no Canadá, vamos voltar mais fortes e unidos.’ 

No entanto, é fácil olhar para o ponto de vista de Piastri que tem tem sido o piloto mais penalizado nesta procura da McLaren por igualdade e justiça. Nas corridas mais recentes, Piastri foi prejudicado pela liberdade na escolha de estratégia na Hungria, que entregou a vitória a Norris e pela troca de posições em Itália depois da paragem lenta de Norris. E tendo em conta o que se passou em Singapura, o que a McLaren considera como a maneira correta de lidar com as situações e de correr em pista pode estar prestes a colapsar, com Piastri a começar a sentir que as ‘Papaya rules’ não estão a ser aplicadas de maneira justa. 

Stella afirma que é difícil manter um ambiente de confiança dentro da equipa mas é algo absolutamente essencial: 

‘Sempre que começamos o diálogo com os pilotos temos de dizer: ‘isto é difícil.’ 

‘É um dos nossos pilares na McLaren, queremos proteger o conceito de os deixar correr, temos de ser minuciosos e temos de ter integridade para permitir que aconteça.’ 

‘Estou muito orgulhoso da maneira como o Lando e o Oscar têm feito parte do processo até agora porque se fomos capazes de navegar as situações, a parte difícil das corridas, é por causa deles.’ 

Manter ambos os pilotos satisfeitos com a filosofia tem sido parte integral de como a McLaren tem gerido uma época com ambos os pilotos a lutar pelo campeonato mas novamente, isto é algo que se baseia numa crença mutua de que as regras são aplicadas de maneira igual para ambos com total integridade. 

Se um dos pilotos perder esta crença, isto abre a porta para que estas regras comecem a ser ignoradas e que o sistema colapse, o que realisticamente poderá ser um problema este ano ainda mesmo com o campeonato de construtores já resolvido. Pode destruir por completo a estrutura interna da equipa e obrigar a mudanças para as próximas épocas e a ameaça de Verstappen começa a tornar-se cada vez mais real na luta pelo título, a prioridade da McLaren deve ser agora garantir a vitória no campeonato de pilotos. E é exatamente por este motivo que Andrea Stella e companhia acreditam que estas conversas devam ser tidas o mais rápido possível. 

‘Temos de rever a situação de maneira detalhada. Tem de ser tido em conta o ponto de vista de ambos os pilotos e depois conseguimos formar uma opinião conjunta. Tendo isto em conta, vamos tentar perceber se a nossa interpretação inicial foi a correta ou se há mais alguma coisa a ter em conta.’ 

O foco principal da conversa não deve ser o incidente em si mas sim se foram cruzados os limites impostos pelas regras da equipa. O facto de Verstappen ser um fator na equação pode não servir como o difusor que a McLaren espera que seja tendo em conta a resposta de Piastri à informação: ‘se para evitar outro carro tem de bater no colega então é uma má maneira de evitar.’ 

A McLaren não se tem escondido das dificuldades aliadas ao facto de ter dois pilotos a lutar pelo título e não tem problemas em falar sobre estas dificuldades em público. 

A atual filosofia, praticada por Andrea Stella e Zak Brown é falar sobre os problemas antes que eles ganhem outra dimensão. 

É por isso que ambos os pilotos são encorajados a falar sobre os problemas. É sabido que Piastri e a sua gerência tiveram conversas acesas depois do Grande Prémio Italiano relativamente à troca de lugares em Monza e Stella espera que este novo diálogo possa ser tido o mais rápido possível, antes da próxima corrida em Austin. 

Sendo esta a segunda reunião relativamente à falta de igualdade em pouco mais de um mês é provável que Piastri não se sinta ouvido e é precisamente por isso que o team principal da McLaren tem sido tão verbal relativamente a estas conversas. 

‘Precisamos de ser minuciosos porque está muita coisa em risco. Não só os pontos no campeonato mas também a confiança dos nossos pilotos na organização e isto é provavelmente mais importante que os pontos. Vamos aplicar a atenção necessária para o caso e vamos ter todas as conversas que sejam necessárias.’